O corpo teórico e conjunto de evidências, tanto das ciências humanas como das ciências naturais, tem mostrado que cada vez mais não é possível compreender a sociedade sem a natureza e a natureza sem a sociedade. Nesse sentido, o Antropoceno emerge como um conceito científico cada vez mais robusto, desenvolvendo um conhecimento integrado e interdisciplinar sobre o papel humano na Terra. Os sistemas sociais e sistemas ecológicos estão de fato interconectados e interdependentes e funcionam como sistemas socioecológicos. Assim, o corpo teórico-metodológico de Sistemas Socioecológicos tornou-se uma parte importante da pesquisa social e ecológica de hoje, uma vez que os resultados das interações sociedade-natureza do passado têm implicações para o futuro comum da humanidade na biosfera. Assim, a Biogeografia Cultural, Geografia Histórica e Ecologia Histórica se posicionam como importantes ferramentas a serem aplicadas para a resolução de problemas concretos e proposição de políticas públicas relacionadas aos Sistemas Socioecológicos. Compreender como as sociedades utilizavam os recursos naturais no passado, produzindo paisagens marcadas com nossa história, tornou-se um campo muito importante de investigação científica nas últimas décadas. Sem ter um bom conhecimento sobre como ocorreu o processo de transformação da paisagem, não se pode tomar boas decisões em relação ao seu uso atual, gestão de recursos naturais, serviços ecossistêmicos e conservação da biodiversidade. O objetivo principal deste projeto é analisar as transformações da paisagem que ocorreram nas florestas urbanas, periurbanas e rurais na região sudeste, focando mais nos últimos 200 anos, a fim de compreender as atuais interações socioecológicas e os resultados desse processo histórico-ecológico. Fundamentalmente, investigamos a relação sociedade-natureza e a forma como essa relação se inscreve na paisagem florestal atual. Aplicamos o arcabouço dos sistemas socioecológicos para aumentar o poder explicativo e entender melhor a interconexão de diferentes atores sociais e instituições com a floresta. Os objetivos específicos são: Investigar como se deu o processo histórico de transformação da paisagem, tanto em âmbito urbano quanto rural; Integrar a dimensão sociocultural com a ecológica, aplicando a categoria geográfica de Paisagem e apoiando-se no alicerce teórico-metodológico de Sistemas Socioecológicos, Novos Ecossistemas e Serviços Ecossistêmicos (ou Contribuição da Natureza para as Pessoas); Compreender o padrão de distribuição espacial de diferentes organismos e suas relações com os seres humanos; Analisar os legados socioecológicos impressos e manifestos na estrutura material, biológica e cultural da paisagem; Entender a percepção simbólica da floresta a partir da cosmovisão dos diferentes grupos sociais presentes nas áreas de estudo; Identificar e georreferenciar vestígios físicos e culturais e produzir mapas de distribuição dos elementos histórico-culturais; Analisar a origem e distribuição dos novos ecossistemas presentes nas paisagens florestais; Analisar a estrutura e composição de diferentes trechos de floresta, incluindo os novos ecossistemas; Avaliar a distribuição espacial e provisão de serviços ecossistêmicos nas áreas de estudo; Elaborar uma nova metodologia de divulgação científica aplicada aos estudos de transformação da paisagem e sistemas socioecológicos. Usamos um conjunto de métodos e técnicas tanto da Geografia (Física e Humana) como aquelas mais comuns à História, Ecologia e Antropologia. Basicamente aplicamos a Metodologia de Leitura da Paisagem de autoria de professores do PGE, que indicam três etapas importantes: 1) investigar o processo histórica de uso e ocupação da paisagem; 2) decifrar, através das evidências materiais (ruínas, carvão vegetal etc.) os usos humanos pretéritos; 3) decifrar as mudanças ecológicas atuais, a partir da composição de espécies (presença de exóticas; diferentes padrões de assembleia de espécies etc.). Para isso é necessário: a) realizar trabalhos de campo exploratórios na floresta para desvendar tantos os vestígios materiais quanto biológicos; b) realizar pesquisa de fontes históricas primárias (documentos históricos) e fontes secundárias; c) realizar entrevistas semiestruturadas e conversas livres para compreender as histórias e geografias orais dos diferentes grupos sociais que usam a floresta. Associado a isso, as ferramentas de SIG, imagens de satélites e fotografias aéreas são fundamentais pois fornecem uma compreensão de como as características físicas da terra, a cobertura vegetal e o uso do solo variam espacialmente e estão interconectados, produzindo importantes mapas temáticos a partir dos dados obtidos em campo e dos documentos históricos. Realizamos distintas análises espaciais com a sobreposição dos dados históricos, culturais e biológicos. Também são empregados técnicas específicas de ecologia vegetal para o inventário da estrutura e composição dos trechos de floresta, e de pedologia para investigar as propriedades químicas e físicas do solo e a provisão de serviços ecossistêmicos de estoque de carbono e fluxo hidrológico. Por fim, escolhemos o framework da Ostrom para a análise do Sistemas Socioecológicos, como ferramenta para detecção de lacunas, falhas de funcionalidade sistêmica e comunicação para a tomada de decisão.