Em O Direito à Cidade, livro publicado em 1970, Henri Lefebvre aponta para a esperança, para a utopia que as virtudes humanas poderão realizar de forma completa após a desumanização da cidade capitalista. Trata-se de um verdadeiro manifesto político, uma esperança no humano, nas suas possiblidades e um grito indignado contra o horror que nos assombra dia a dia. Compreender o que Lefebvre defende, discutir suas ideias exige compreender, pelo ao menos um pouco e, ainda que de forma apenas aproximativa, seu pensamento, suas referências teóricas e metodológicas, suas escolhas e paixões. Por isso, iniciamos a discussão colocando em relevo a preocupação de Lefebvre com a noção de totalidade, que serviu de ancoradouro para abrigar e desenvolver suas reflexões. De um lado, permitiu-lhe perceber o processo de planetarização do urbano quando ninguém se referia a isso. De outro, orientou metodologicamente suas análises constituindo parâmetro para conceber uma forma de pensar assentada em tríades, as quais permitem compor um universo de infinitas totalidades. A bem dizer, de totalidades dialéticas. Tomamos como momento dessa discussão, duas tríades teóricas e metodológicas, bastante comuns quando se discute o espaço urbano. A formada pelas noções de forma, função e estrutura e a constituída pelas noções de homogeneização, fragmentação e hierarquização que finaliza esse texto.