PPG Geo

Vivemos no período geológico denominado Antropoceno, que na verdade expressa quanto a sociedade pós-industrial modificou e deixou sua assinatura nos diferentes componentes do sistema terrestre – atmosfera, litosfera, biosfera e hidrosfera. Além dos impactos das atividades humanas no sistema climático global, destacam-se também mudanças no uso do solo e fragmentação de habitat como uma das principais causas na mudança nos padrões de biodiversidade. Essas transformações apresentam um impacto direto no funcionamento dos ecossistemas e, por sua vez, nos próprios serviços ecossistêmicos de que a população humana se beneficia. Em suma, as mudanças de uso da terra são práticas que têm alterado de forma global as paisagens ao longo do tempo, com reflexos diretos nos ciclos biogeoquímicos e hidrológicos, que afetam diretamente o clima e a provisão de serviços ecossistêmicos. O ciclo do café na região do presente estudo – o Vale do Rio Paraíba do Sul, entre Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais – resultou no desmatamento de florestas nativas de Mata Atlântica em grande escala. Documentos antigos indicam que as primeiras safras de café apresentaram desempenho excelente, sinalizando a presença de solos férteis. Com o passar dos anos, os fazendeiros constataram a perda da qualidade do solo com a baixa produção. Os solos sob florestas naturais tendem a apresentar maior atividade microbiana, carbono orgânico, nutrientes e umidade quando comparados a áreas com atividades agrícolas. Dessa maneira, a transição de floresta nativa para produção de café representou a perda da qualidade dos solos dessa região, possivelmente por processos como erosão e lixiviação. O desgaste do solo ocasionando baixa produtividade e o fim da escravidão foram fatores que contribuíram para o fim de extensas fazendas de produção de café. A intensificação sustentável de pastagens e cultivos agrícolas associada à regeneração natural de florestas nativas condicionarão o retorno de serviços ecossistêmicos perdidos. Porém, mecanismos de políticas públicas ainda deverão ser desenvolvidos para que o ônus da recuperação dos serviços ecossistêmicos não recaia totalmente sob os ombros dos proprietários, uma vez que os benefícios são para toda a sociedade.